A FORJA DE VULCANO TEMÁTICA Velásquez partiu pela primeira vez para a Itália no verão de 1629. Lá ele permaneceu durante um ano. Esta visita à metrópole do Barroco lhe permitiu o conhecimento da obra de Rafael e de Michelangelo. Do mesmo modo, ele entra em contato com os artistas mais relevantes do momento, tais como Pietro de Cortona ou Comenichino. Esta circunstância será decisiva na evolução de sua arte. Fruto daquela época é este quadro. Nele se recolhe um assunto de tipo mitológico. O autor escolhe o instante em que Apolo entra na forja de Vulcano para comunicar-lhe a infidelidade de sua esposa. O deus do fogo interrompe seu trabalho e olha diretamente para o mensageiro. A mesma coisa acontece com os cíclopes. Um deles, o mais jovem, parece ficar estupefato diante de semelhante notícia. Vênus tornou a burlar-se de seu marido. O ateliê do astro-deus está ambientado como qualquer frágua do século XVII. ANÁLISE TÉCNICA E ESTILÍSTICA A composição do quadro oferece uma horizontalidade bastante acentuada. Os personagens se dispõem frente ao espectador num plano paralelo à tela. Entre eles se intercalam uma couraça, a bigorna e outras ferramentas de trabalho. Estes elementos se distribuem sobre a tela numa posição mais ou menos adiantada em relação às figuras. Com este procedimento, o artista persegue a consecução de uma sensação espacial mais organizada e verossímil. A mesma coisa acontece com a chaminé e o cíclope quase esboçado do fundo. Sua inclusão permite ampliar o espaço, evitando-se uma visão plana do mesmo. O pintor não cria um interior em penumbra. Este traço juvenil desaparece a favor de uma luz que inunda a forja. O claro-escuro modela cuidadosamente a anatomia dos personagens. Esta parece absolutamente fantasiosa. Seu classicismo denuncia um conhecimento direto dos mestres italianos. A representação está dotada de uma grande coesão de atitudes. Seu fim primordial é a perfeita unidade de ação. Junto destas novidades estilísticas, se mantém a preocupação por captar a textura dos objetos, o que é característico de suas naturezas-mortas juvenis. INTERPRETAÇÃO A Forja de Vulcano constitui uma obra de especial relevância na hora de ilustrar um momento crucial na evolução estilística do pintor. Animado por Rubens, ele viajaria à Itália. Lá permaneceu cerca de um ano. Esta circunstância lhe permitiu conhecer diretamente as obras-primas do classicismo italiano. Seu estudo se traduz claramente sobre esta tela e sobre A Túnica de José. Isso se pode apreciar na idealização corporal e na iluminação clara e brilhante do cenário. A estas notas estilísticas se somam a perfeita coesão de gestos e a unidade narrativa. Velásquez incorpora à sua linguagem pictórica todos estes recursos, ainda sem desenvolver na sua trajetória anterior. A pincelada empregada oferece qualidades diferentes, em função do efeito buscado. Faz-se solta e leve no tratamento do rosto do Vulcão. Isso se acentua sobre a figura do fundo. O contraste é óbvio se se comparam com os panos de ar escultórico que cobrem o cíclope central. A experiência que se extrai deste trabalho é a perfeição técnica, superior à do resto de sua obra anterior.